The flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas.

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quarta-feira, 14 de abril de 2010

O clima da alma

Eu pensava, como muitos portugueses, que o Verão tinha chegado mais cedo, este ano. Pelos vistos, enganei-me. Os dias de chuva voltaram e parece que nos farão companhia por mais uma semana, pelo menos. É esta a beleza do clima: tão depressa está sol como chuva, frio como calor; uma constante incógnita.

E, ao olhar para o clima, lembro-me, inevitavelmente, de tudo o que nos rodeia. Porque, na verdade, não somos todos e cada um de nós uma espécie de clima com pequenos micro-climas dentro de si? Nunca sabemos como será o dia de amanhã. Podemos ter uma previsão (tal como do estado do tempo), mas nunca pode ser totalmente segura e, muitas vezes, não se concretiza.

Nesse caso, para que serve a meteorologia? E qual é a nossa meteorologia, a meteorologia da alma?

Não me parece que haja forma de responder com exactidão. Sabemos que a meteorologia serve para prever o tempo, mas qual a sua utilidade se não é cem por cento certa? Tal como as nossas esperanças e os nossos desejos, as nossas convicções e as nossas certezas – tão fortes como o sol que se previa, mas que foi coberto por uma nuvem de última hora.

Quantas vezes não estamos certos de algo que, volta e meia, se revela uma mentira ou um erro? E quantas vezes estamos com dúvidas sobre que roupa vestir, quando a previsão parece clara? Que significa toda esta dúvida que nos assola quando devíamos estar esclarecidos?

Bem, se calhar não somos assim tão dependentes da meteorologia. Até aqueles que parecem ter uma psicose com o tempo que vai fazer no dia a seguir sabem, no fundo, que não passam de números quase vazios. Porque, de facto, sabemos que o clima, como nós, não é previsível. Porque o clima, como as nossas acções, tem lugar no futuro. E eu não acredito que o futuro alguma vez possa ser presente antes que seja hora de o ser.

Resignemo-nos, portanto, à inevitabilidade de viver na incerteza. E de conviver com as rasteiras que o tempo nos passa. Seja o tempo físico, seja o tempo psicológico, sejam horas, ou sejam meses. A inconstância do clima real é a analogia perfeita para o clima pessoal de cada um. Tal como o estado do tempo, também nós não nos podemos controlar e estamos dependentes de uma série de factores que, conjugados, nos traçam um caminho.

Até que ponto influenciamos o nosso futuro? Mantendo a analogia, tenho medo da resposta: tanto quanto me lembro, só pioramos o estado do clima do planeta.


Lisboa, 14 de Abril de 2010