The flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas.

.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Ordem e Progresso

Uma perseguição da polícia na passada madrugada terminou com a morte do fugitivo e com o polícia autor do disparo constituído arguido. Ao que parece (a julgar pelas notícias que tenho lido), o jovem de 25 anos não respeitara a ordem para parar numa operação STOP e a PSP iniciou a perseguição. Tudo acabou em Benfica, com o fugitivo a ser baleado mortalmente.

Até aqui, nada de estranho. Aliás, só me parece que podiam ter acabado com a perseguição mais cedo (e da mesma forma), para poupar no combustível gasto. Porém, a lei portuguesa não tem o mesmo entendimento. Na verdade, o operacional da polícia, de 28 anos, foi constituído arguido, uma vez que, segundo a lei, ainda não está provado se havia perigo para a vida dos agentes da polícia ou de terceiros. Parece-me, a mim que sou um leigo na matéria, que só o facto de andar a fugir a alta velocidade nas ruas de Lisboa já é um perigo suficiente. Mas posso estar enganado!

E o mais chocante neste caso todo é que o agente da PSP ainda corre o risco de ser suspenso e acusado de homicídio. Para já, deverá ser afastado da actividade policial enquanto decorrem as investigações da Polícia Judiciária.

Bem, neste país, já nada me surpreende. Mas não consigo ficar indiferente ao ver que os criminosos têm mais direitos que os polícias, por exemplo. Não consigo perceber como é que é possível que o nosso Estado se tenha tornado tão liberal a ponto de um agente da autoridade incorrer numa acusação de homicídio enquanto cumpria o seu dever de manter a ordem pública.

A direita, e em especial Paulo Portas e o CDS têm alertado muito para este facto. Há uns anos, riam-se deles. Nas últimas eleições, os portugueses começaram a dar-lhes razão, o que se reflectiu nos resultados alcançados. Porque penso que é quase unânime (e não totalmente porque ainda há supostos intelectuais de esquerda que querem acabar com o exército e instaurar uma quase anarquia) que todos preservamos a nossa segurança e a prevalência do bem sobre o mal. Se se perguntar ao cidadão comum o que pensa do caso descrito (ou de tantos outros a que, de quando em vez, assistimos), é quase certo que a esmagadora maioria das respostas irá no mesmo sentido: o respeito pela ordem.

As sociedades actuais, cada vez mais globalizadas e complexas, são cada vez mais difíceis de governar e levar num rumo certo. Porém, temos que ter presente que só conseguiremos, algum dia, um mínimo de progresso se tivermos presente a necessidade de haver ordem.

Hoje em dia, tudo é um ataque à liberdade de expressão. Achamos (e uso a primeira pessoa apenas para representar os portugueses em geral, não que me inclua propriamente neste “nós”) que temos direito a tudo. Que porque vivemos 40 anos numa ditadura, agora tudo é liberdade. Mas não é assim. Até porque quem mais milita por esta liberdade (que mais não é que libertinagem), nem sequer viveu os horrores da ditadura.

Não podemos ter medo de condicionar a liberdade. Não é por pretendermos uma sociedade com mais ordem, com noção das hierarquias e do respeito pelas instituições e com uma mão forte no comando que vamos ser fascistas. É muito fácil e fica bem dizer-se que a direita (principalmente o CDS) é de extrema-direita ou, no limite, fascista. Mas se fizermos um exercício introspectivo, concluiremos que todos nós, quando atacados, o que queremos é que “se faça justiça” e quase esquecemos que o criminoso tem direitos.

As democracias ocidentais têm, cada vez mais, caminhado num sentido de cada vez maior permissão. Isto deve-se, em grande parte, devido à participação numa União Europeia e nalgumas outras organizações internacionais. Porém, nestas alturas, recordo-me sempre da “dama de ferro”, que tanta falta nos fazia. Se houvessem mais líderes como Margaret Tatcher, não tenho dúvida que o respeito pela ordem era maior e que o progresso (económico, social, cultural, pessoal) seria bem mais evidente.


Lisboa, 15 de Março de 2010

domingo, 14 de março de 2010

Às Direitas

O fim-de-semana político em Portugal ficou marcado pelo Congresso do PSD em Mafra. Já se sabia que não era um encontro decisivo e, no dizer de muitos analistas, era mais um comício tripartido que outra coisa. Nas minha perspectiva, foi muito mais que isso.

Em vez disso, foi uma demonstração de união dos sociais-democratas. Mesmo com divisões internas e com 3 candidaturas (que me perdoe Castanheira Barros, mas não me parece que entre para as contas finais), o Congresso serviu para muito mais que simples campanha.

Santana Lopes fez propostas, a meu ver, muito interessantes e pertinentes. A ideia de haver eleições directas no dia do Congresso e, principalmente, de haver um Congresso prévio é louvável. Não faz sentido fazer um Congresso depois das eleições. As discussões fazem-se antes, não depois.

Esta proposta, porém, bem como a proposta de haver uma segunda volta não foram aprovadas, para já. Mas todos os candidatos à liderança deixaram claro que poderiam voltar à discussão após as eleições. Há vontade de mudar, e isso é sempre um facto positivo.

Por outro lado, foi aprovada a proposta de haver sanções para quem criticasse a posição do partido nos 60 dias anteriores a um acto eleitoral. Pode-se pensar que é uma medida quase ditatorial, mas, se bem nos recordamos, foram todas as dissensões dos últimos anos que levaram o partido a esta situação. Ainda que discutível, pode ser positiva.

Inesquecível é, por seu lado, a intervenção de Fernando Costa, presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Muitos o acusam de ser politicamente incorrecto, de não se saber comportar em público e de ser inconveniente. Contudo, temos que reconhecer: Fernando Costa disse o que muitos pensam, mas quase nenhuns, com medo de “represálias”, dizem. Louve-se, por isso, a sua coragem e a forma como soube apontar a tudo e todos, sem deixar de reiterar o mais importante: a união dentro do partido e a força para derrubar o governo socialista. Se fossem todos assim…

Fora do congresso, mas também “às direitas”, uma nota de louvor também para Cavaco Silva. O Presidente da República remeteu para o Tribunal Constitucional o texto da lei dos casamentos homossexuais, com excepção do artigo que dizia respeito à adopção. Era uma atitude esperada, mas, nem por isso, menos acertada. Esperemos agora pela resposta da justiça. Pode ser que o casamento homossexual não seja um dado tão adquirido como se julgava e a proposta do PSD para a união civil registada seja vista com outros olhos.

Em conclusão, reitera-se o pedido de Pedro Passos Coelho ao engenheiro Sócrates. Já que demorou tanto tempo a apresentar o PEC, que adie a sua discussão por duas semanas, para que o novo líder do PSD tenha algo a dizer. Ficava-lhe bem.

Lisboa, 14 de Março de 2010

Retratos e Teatros

Finalmente online o blog "Retratos e Teatros". Um espaço de comentário diário semanal, como grandes nomes do teatro mediático nacional.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Triunfo das Mulheres?

Afinal, Manuela Ferreira Leite tinha razão. Afinal, o TGV devia ser adiado. Afinal, os portugueses é que não perceberam. Nada de novo, portanto. Ainda assim, não deixa de ser irónico esta pequena "vitória" de MFL. No Dia Internacional da Mulher, o Plano de Estabilidade e Crescimento é apresentado e, entre outras medidas, o governo do senhor engenheiro recua nas linhas de TGV previstas entre Lisboa - Porto - Vigo, uma medida que MFL defendeu acerrimamente na campanha eleitoral.
Mas, politiquices de fora, hoje é o Dia da Mulher. Todos os anos, quando chega ao dia 8 de Março, não consigo evitar rir-me para comigo mesmo. Não consigo encontrar nenhum "dia" mais incongruente do que este. É que o Halloween ou o Dia dos Namorados ainda têm um propósito comercial. Goste-se ou não, festeje-se ou não, pelo menos para a economia tem significado. Agora, o Dia da Mulher consegue ser ainda mais oco de sentido.
Muitos dirão que este dia destina-se a recordar que as mulheres ainda são discriminadas, que ganham menos que os homens, que são maltratadas. Seria uma perfeita falta de bom senso procurar negar estes factos. É indiscutível que, nalguns casos, nalgumas sociedades, as mulheres ainda são postas de lado. Mas daí a fazer um dia que o comemore!...
Porque repare-se, este dia mais não faz que relembrar, precisamente, o que as mulheres sofrem. Mas, na prática, não serve rigorosamente para nada. Reconheço que algo tem que ser feito, sem dúvida. Mas "dias" assim não resolvem nada. Principalmente, porque as mulheres são discriminadas nos países subdesenvolvidos, aqueles onde os "festejos" deste dia não têm relevância. Não podemos dizer, com justiça, que nos países desenvolvidos as mulheres sejam alvo de exclusão. É uma hipocrisia, ainda que muitos pseudo-feministas agitem números e estatísticas que julgam comprovar o que dizem.
E a prova do que digo está, por exemplo, nas lideranças políticas. Hillary Clinton é Secretária de Estado dos EUA, Angela Merkel é Chanceler Alemã, Catherine Ashton é Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, o governo de Zapatero é composto por inúmeras ministras. Fora esta pequena lista, há ainda os exemplos históricos de, por exemplo, Margaret Tatcher ou Madeleine Albright ou os recorrentes países nórdicos, onde as mulheres desempenham um papel fundamental na vida política.
Não me parece que se possa, assim, dizer que as mulheres são discriminadas. E esclareça-se bem: não sou, nem de longe, anti-feminismo. Simplesmente, considero que "dias" da Mulher, leis da paridade e, em suma, tudo o que seja feito para tentar colocar "a mulher" num lugar quase por encomenda é um desprestígio para as próprias mulheres. Há muitas mulheres com muitas qualidades (arrisco dizer que superam os homens) que não precisam de clichés para se afirmarem socialmente.
Em vez de se continuar com esta fantochada do Dia da Mulher, era realmente importante proteger as mulheres (e os homens) naquilo que são mais fracos (se em vez de recordar que existe, se combatesse no terreno a violência doméstica, por exemplo, talvez fosse mais louvável), em vez de relembrar a discriminação de que são alvo. Afinal, ao fim de cem anos, o "dia" da Mulher teve algum resultado?

Lisboa, 8 de Março de 2010