The flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas.

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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ensitel - de novela a tragédia grega

Tomei ontem conhecimento de um episódio caricato ocorrido entre a Ensitel e uma cliente. Em traços largos, o enredo resume-se assim: a senhora X recebeu um telemóvel como presente de Natal, em 2009; o aparelho tinha problemas e dirigiu-se à loja; depois de a fazerem correr mais que uma loja, disseram-lhe que não o trocavam nem lhe davam o dinheiro; em tribunal, a lesada perde a acção porque o juiz considera que não devia ter ficado com o telemóvel. Neste ponto, começa a história a ter "piada". Porque à incompetência deste tipo de lojas já nós estamos habituados. O que não esperávamos (eu não esperava, quando comecei a tomar conhecimento da história) era que o juiz fosse complacente com o sucedido. Em suma, a pobre cliente ficou sem o telemóvel e perdeu a disputa legal. Até aqui, apesar de não concordar com o desfecho, temos que aceitar, pois os tribunais têm a última palavra.
Quem não se calou, e bem, foi a pobre senhora X, que foi actualizando o seu blog com este episódios. Até que, este Natal, recebe uma nota da Ensitel informando que, se não apagasse os posts referentes ao caso, em que punha tudo a nu, os advogados da empresa entrariam com uma acção em tribunal contra a senhora X.
Ontem, através do Facebook, do Youtube e, depois, do próprio blog fiquei a saber desta história que me parece importante ser divulgada.
Tentando dar o contraditório à Ensitel, Luís Paixão Martins explica, no seu blog, o que poderá ter acontecido para esta intimação à senhora X. Diz o especialista em Relações Públicas que deverá ter havido uma grande falha de comunicação. Quero acreditar, de facto, que foi tudo o grande mal-entendido e que a senhora X não vai, de facto, ter que apagar os seus posts.

Entretanto, também a través do Facebook, fiquei a saber deste site criado por empregados da empresa. Parece que, afinal, não é só os clientes que são enganados.

Deixo aqui o vídeo que parodia toda esta novela, que já começa a ganhar contornos que uma autêntica tragédia grega.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Instituto Novas Profissões?

Esta manhã, enquanto fazia pesquisa para uma reportagem, dei por mim no site da Comissão Política do PCP. Aqui, podemos encontrar uma fotografia de cada membro deste órgão, com respectivo nome, idade e profissão. E como estamos sempre a aprender, também eu, hoje, aprendi uma profissão nova. Por entre "Operários" e "Empregados" (não nos dizem de quê, mas se são empregados é porque têm um patrão e, para a causa, isso é que importa) eis que surgem uns quantos "Intelectuais". Fiquei a saber, portanto, não sem espanto, que existe a profissão de "Intelectual". Assim, não podemos mais acusar de pretensiosismo aqueles que se intitulam de intelectuais. Afinal, poderão ser titulares de uma profissão tão nobre como qualquer outra. 



Caldas da Rainha, 28 de Dezembro de 2010


domingo, 19 de dezembro de 2010

Uma discoteca, o bom-senso e a ordem

Todos nós sabemos que o limite mínimo de entrada numa discoteca é uma farsa. Raramente alguém é impedido de entrar só por ter menos de 16 anos. O público agradece, porque pode ir à discoteca; a gerência ainda agradece mais porque, se assim não fosse, perderia bastante clientela. No meio disto, as autoridades fiscalizadoras fazem “vista grossa” e vamos todos compactuando para que esta situação vá sendo permitida. Porém, chega uma altura em que o motivo para haver limites às entradas nas discotecas prova a sua razão de existir.
Este fim-de-semana, numa discoteca de Caldas da Rainha, pudemos perceber por que é que a lei só permite a entrada a maiores de 16 anos e por que é que, neste caso específico, o estabelecimento tem uma lotação máxima para 400 pessoas. Nenhum destes preceitos foi respeitado e, na hora de pagar a conta, gerou-se a confusão. A discoteca tinha, inegavelmente, muito mais pessoas no seu interior do que a sua capacidade permitia e grande parte dessas eram menores.
Apesar da gravidade desta situação, as consequências poderiam ter sido contidas se a gerência do espaço tivesse tido o bom-senso de, vendo tamanha avalanche de gente confinada num pequeno cubículo (onde se procedia ao pagamento), abrisse as portas e permitisse a saída. Teria prejuízo, é certo, mas evitaria que a GNR e o INEM tivessem que acorrer ao local. Contudo, já sabemos que o bom-senso, por norma, não abunda, e foi mesmo necessária a intervenção destas duas forças.
O INEM foi chamado porque, além das previsíveis consequências da venda de álcool a menores, no meio da multidão começaram as crises de ansiedade e os desmaios. A GNR foi chamada para manter a ordem, mas tivesse ficado no quartel e o resultado seria o mesmo. No início, os militares, perante o absurdo e o perigo da situação, decidiram o óbvio: abrir as portas de emergência e deixar a multidão sair. O caricato da situação ocorreu quando um membro da segurança privada da discoteca “ordenou” ao militar da GNR que fechasse a porta, porque alguém tinha que cobrir a despesa da noite. E eu pergunto (como se perguntou a um militar na ocasião, obtendo como resposta um encolher de ombros), afinal quem é a autoridade? A GNR ou a segurança privada?
Detalhes à parte, a verdade é que quem esteve mal foi a GNR. Neste episódio específico da abertura de portas, a discoteca só pode ser acusada de falta de bom-senso porque, no fundo, apenas pretendiam cumprir o seu trabalho, ou seja, cobrar as entradas a quem ali passou a noite. Cabia à GNR mostrar quem mandava e resolver o problema com celeridade.
Para mim, a verdadeira culpa da discoteca não reside no efeito, mas na causa. Ou seja, nunca deveria ter organizado uma festa desta dimensão. Se não tinha espaço e condições para o evento (o que, por mais que a discoteca insista em negar, é verdade), não o organizava. E, pior que isso, foi a organização ter sido feita a pensar já à partida em infringir o limite mínimo de idade permitido por lei. Se é mais ou menos pacífico (ilegal, mas pacífico!) que numa noite “normal” se fechem os olhos a algumas crianças que entram na discoteca, como se pode permitir que se organize uma festa de fim de aulas cujos ingressos sejam vendidos em escolas secundárias e de terceiro ciclo? Obviamente que grande parte das vendas será feita a menores de 16 anos porque são esses que maioritariamente frequentam essas escolas.
É muito grave a forma como uma discoteca promove um evento dedicado a um público que, por lei, não pode frequentá-lo. Não estão isentos de culpa os pais destas crianças, que não as deviam ter deixado ir à discoteca. Mas o grande culpado é o promotor do evento (a discoteca e uma rádio), porque deliberadamente propiciou esta situação.
Poderíamos ainda falar da forma pouco clara como foram vendidos os ingressos, sem ninguém saber muito bem o que estava a comprar (se uma entrada, se uma bebida e uma entrada, se nada disso, ou se outra coisa qualquer). Mas isso é apenas a demonstração do chico-espertismo português, de tentar enganar os outros ao máximo. A mim, pessoalmente, enganaram-me. E enganaram-me não só (nem principalmente) na venda do ingresso mas, sobretudo naquilo que foi esta noite. Todos os que foram àquela discoteca foram cúmplices com a situação gravíssima que ali aconteceu, porque todos deram cobertura ao longo dos anos e margem de manobra para que a discoteca agisse sem controlo. Como cidadãos, devíamos pensar bem sobre isto (um reflexo do país real em que vivemos) e se é assim que algum dia chegaremos a algum lado. É inaceitável e inqualificável que uma discoteca tenha promovido ao longo de semanas um evento onde se sabia que iria haver excesso de lotação (porque foram emitidos mais ingressos que os lugares disponíveis) e onde se sabia que iam estar menores de idade (porque foi a eles, maioritariamente, que foram vendidas as entradas) e ninguém tenha feito nada para o impedir ou, pelo menos, controlar. À discoteca faltou, como sempre falta, bom-senso. Mas que dizer dos que a tudo assistiram complacentemente?
Caldas da Rainha, 19 de Dezembro de 2010