The flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas.

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"M" Syndrome

Já todos sabíamos que a habilidade do senhor engenheiro para governar era quase tanta como para fazer jogging: eram duas actividades que fazia no tempo livre. O que ainda não estava completamente esclarecido ou, pelo menos, explícito, era a sua falta de habilidade para governar mal. Que não sabia governar bem, não era novidade. O que me espanta é que também não saiba governar mal.
Olhe-se, por exemplo, para o senhor major ou para o senhor presidente. Repare-se na forma como conseguem que o futuro lhes sorria. Têm a capacidade de manipular resultados e, principalmente, de o fazer impunemente. A discrição, a forma subliminar, a dissimulação com que puxam os cordelinhos, apesar de reprovável, tem que ser elogiada.
Sempre achei que as jogadas eram as mesmas entre rosas e laranjas. Uns não eram melhores nem piores que os outros. Contudo, os rosas sabiam fazê-lo pela calada, enquanto os laranjas eram sempre apanhados em flagrante.
Agora, o senhor engenheiro não conseguiu nem chegar perto da dissimulação a que os rosas nos habituaram. Depois de inúmeros outros casos em que já no ar ficara a suspeita de ter metido o dedinho, agora o descaramento chegou ao cúmulo. Já nem houve lugar para os telefonemas a pressionar ou para as mensagens em código. Foi, simplesmente, no meio dum restaurante, para quem quisesse ouvir. Eu sentir-me-ia até desrespeitado e insultado se fosse o director do canal em questão. Quer dizer, lá por ser um canal dirigido por um fundador laranja, não é preciso ter menos respeito por isso. Ao outro, que era do amigo espanhol, dignou-se a manipular minimamente como devia ser. Ao público, porque mandava, só teve que mandar e pronto (e mesmo assim fê-lo dando a transparecer que não o tinha feito). Mas a este, que é destro, já só lhe calha uma altercação pública. Onde está, afinal, a igualdade?
Não nutro especial simpatia ou admiração pelo jornalista-louco. E o facto de ter uma longa e meritória carreira (que é inquestionável) não é para aqui chamado. Porém, tudo tem limites. As crianças mimadas que fazem birras quando lhes dizem que não podem ir brincar com os comboios e os aviões ficam de castigo, em vez de irem para o recreio. Quanto tempo mais será preciso, quantos mais amuos, para que esta criança seja posta de castigo?
Podemos aceitar que o senhor engenheiro não gostasse que na televisão espanhola a jornalista desse opiniões. E que na portuguesa o professor aconselhasse livros (nem todos podemos ter a sensibilidade para a suprema actividade da leitura; há quem não consiga passar das revistas cor-de-rosa e com esses temos que ser solidários). Mas, caramba, que mal tinha um velho senhor a dizer, numa voz arrastada e quase poética, enquanto o mapa deste país surgia no ecrã com a meteorologia para o dia seguinte, que passavam vinte anos desde a queda do muro e que os cravos tinham sido há trinta e cinco?
Aí está! Se calhar tinha mal dizer que o velho continente é livre e que o nosso país é democrático. Para alguns isso não costuma cair bem.

PS (post scriptum) - Enquanto escrevia, descobri uma possível causa para este problema do senhor engenheiro. Na verdade, pode padecer de uma rejeição da letra M. Senão veja-se: Moura Guedes, Moniz, Marcelo, Mário Crespo e, fala-se, Medina Carreira. Outros mais poderão haver que não me recorde e que derrubem esta teoria. Se assim for, em nome da liberdade de opinião e de expressão, alguém me corrija.


Caldas da Rainha, 3 de Fevereiro de 2010

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