The flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas.

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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Brincadeiras de crianças

Ao ouvir esta noite o debate “Prós e Contras” fiquei com a sensação que, às vezes, a RTP faz verdadeiro serviço público de televisão. E não apenas pelo tipo de programa que é, mas sobretudo pelo conteúdo que teve hoje. Quando se juntam três antigos Presidentes da República e o Reitor de uma grande universidade, o resultado não pode fugir muito de uma lição para o país.

Sampaio até disse que não estava ali para dar aulas a ninguém, mas a verdade é que se prestássemos atenção ao que disse, bem como aos seus companheiros de análise, teríamos muito que aprender. Qualquer um dos presentes tocou com o dedo na ferida, à sua maneira. E com todos concordei. E ainda com Henrique Granadeiro que, da plateia, fez também ele uma intervenção brilhante.

Deste debate/conversa tirei duas ilações principais: 1) ao contrário do que se diz e apesar da crise ser grave, não é o fim do mundo e 2) andamos a brincar aos países e às repúblicas.

Como bem referiram os antigos PR, haja ou não Orçamento de Estado, venha ou não o FMI a Portugal, caia ou não o Governo, toda esta situação há-de passar. Aliás, este é um pensamento muito português: depois da tempestade vem a bonança. Ainda que nas últimas décadas pouca tenha sido a bonança, como diz Sampaio, é preciso pensar positivo.

Porém, apesar desta ser uma das conclusões que tiro do debate, não concordo forçosamente com ela. É verdade, sim, que não é o Apocalipse. Mas a situação é grave e poderá ficar muito grave se o OE não for aprovado. E não podemos ignorar isso. Não podemos assobiar para o lado enquanto uns milhares fazem greves e manifestações. Não podemos fingir que é só mais um episódio de uma novela chamada “Crise”. Apesar de estarmos em crise há não sei quantos anos e de ser cada vez pior (Inês Pedrosa até sugeriu que se arranjassem outros nomes, porque os quantificadores começam a escassear), um dia vamos memos bater no fundo. E esse dia está perto. E digo isto não propriamente porque as condições de vida vão ser muito piores, mas sim porque se vão manter muito más por muito tempo, porque vai ser muito difícil reerguermo-nos.

Por outro lado, referiu Henrique Granadeiro que os políticos portugueses parecem crianças a brigar. Um que provoca o outro e o outro que faz birra e amua. Na situação em que nos encontramos, isto é intolerável. Toda a gente já sabe que Sócrates é um incompetente e que nunca devia ter sido Primeiro-Ministro. Mas se Passos Coelho quer fazer algo pelo país, então que ponha isso de lado por um momento e deixe o Orçamento passar. Porque um Orçamento de Estado é relativamente fácil de reverter, mas a desconfiança dos mercados internacionais é bem mais complexa.

Jorge Sampaio disse, esta noite, que a política precisa de gente nova, de caras novas, de ideias novas. Granadeiro explicou porquê. Eu estou totalmente de acordo. Temos políticos velhos, estruturas obsoletas e os poucos novos que aparecem são piores que os velhos.

A revolução não é a solução. Pelo menos a revolução de armas na mão. Mas é imperativo que haja uma revolução nos costumes, na postura dos cidadãos, no interesse pelo país, para que andemos para a frente. No fundo, os políticos são apenas o reflexo do país que temos. E a única forma de sairmos da crise é mexendo-nos, pressionando, lutando e apresentando ideias.


Lisboa, 11 de Outubro de 2010

2 comentários:

Anónimo disse...

O último parágrafo é óptimo.
O problema dos portugueses é psicológico: fraca auto-estima. Daí não saírem para as ruas.

Sílvio Silva disse...

Caro colega, claramente que (as always) não concordo com tudo o que disses-te, mas não podia estar mais de acordo contigo aquando da necessidade de rejuvenescer a politica em Portugal!
Não é só uma realidade com um problema sério!
Já há alguns anos que os cargos são ocupados sempre pelos mesmos ou por pessoas designadas como "competentes". Infelizmente em Portugal ainda existe a ideia de que apra se ser competente é preciso ter muitos anos, não deixando mão de manobra para pessoas que infelizmente não tenham a possibilidade de se demonstrar competentes mesmo andes de chegar a certas idades ou só porque não é tão popular como o outro.
Precisamos de ar fresco de forma a ver se conseguimos mais que ultrapassar a crise, uma estabilidade social e económica.
;D