The flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas.
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Ensitel - de novela a tragédia grega
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Instituto Novas Profissões?
domingo, 19 de dezembro de 2010
Uma discoteca, o bom-senso e a ordem
domingo, 7 de novembro de 2010
Steve Doig - o matemático
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Adeus Avenida de Berna, até depois!
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Cenas dos próximos capítulos
Reunido em Conselho Nacional, o PSD faz saber o que é que o PS e o Governo têm que fazer para que o Orçamento de Estado seja viabilizado. Em resposta, o PS diz que não aceita uma negociação condicionada à partida. Passos Coelho não diz se deixa o orçamento passar ou não, mas adianta que o PSD tem que estar preparado para tudo e que assumirá as suas responsabilidades. Qual o próximo episódio?
Bem, Passos Coelho propôs, finalmente, alguma coisa. Já era tempo, uma vez que não podia apenas criticar o Governo e não apresentar alternativas. Falta apresentar medidas para o corte na despesa, mas ainda tem algum tempo para o fazer. Seja como for, já vai sendo hora de mostrar soluções.
Com a posição que assumiu hoje, Passos Coelho deixa claro que, agora, se o orçamento não passar, a culpa não será dos social-democratas. Depende agora do Governo haver ou não negociação. Contudo, pelo que temos visto nos últimos tempos e pela prepotência que Sócrates tem mostrado desde que é Primeiro-Ministro (ainda não se convenceu que não tem maioria absoluta), não vejo grande perspectiva de cedência por parte do executivo.
Ora, se o governo não ceder perante a proposta do PSD, já se sabe que o orçamento não passa. Porque não acredito que Passos Coelho volte novamente atrás e viabilize um orçamento que não contemple a sua proposta. Por outro lado, custa-me a crer que o Governo aceite, por exemplo, que o IVA suba apenas 1%. Assim sendo, dia 29 de Outubro Sócrates apresentará mesmo a sua demissão.
A minha convicção para este desfecho é apenas uma: Passos Coelho demonstrou hoje que assumirá o governo se assim for necessário. Deu ainda uma hipótese a Sócrates para negociar. Mas Passos Coelho prevê que Sócrates não aceite todas as quatro condições. E, ao apresentá-las, o líder do PSD fica sem margem de manobra para as negociar. É muito simples: ou estas medidas são contidas no orçamento, ou não há orçamento.
Depois de assistir a estes últimos desenvolvimentos, volto a acreditar que o Orçamento de Estado não será aprovado. Sabemos todos quais as consequências que isso terá. Sabemos que o PSD será acusado de ter agravado a situação e aliado uma crise política a uma crise económica e financeira. Porém, se com o Governo a cair e o PSD assumir o executivo, talvez o desfecho não seja tão mau como se prevê. No fundo, pior do que estamos é difícil ficar.
Não podemos prever qual irá ser o resultado da votação no próximo dia 29. Podemos apenas tentar imaginar. Assim sendo, quais serão as cenas dos próximos capítulos?
Lisboa, 19 de Outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Brincadeiras de crianças
Ao ouvir esta noite o debate “Prós e Contras” fiquei com a sensação que, às vezes, a RTP faz verdadeiro serviço público de televisão. E não apenas pelo tipo de programa que é, mas sobretudo pelo conteúdo que teve hoje. Quando se juntam três antigos Presidentes da República e o Reitor de uma grande universidade, o resultado não pode fugir muito de uma lição para o país.
Sampaio até disse que não estava ali para dar aulas a ninguém, mas a verdade é que se prestássemos atenção ao que disse, bem como aos seus companheiros de análise, teríamos muito que aprender. Qualquer um dos presentes tocou com o dedo na ferida, à sua maneira. E com todos concordei. E ainda com Henrique Granadeiro que, da plateia, fez também ele uma intervenção brilhante.
Deste debate/conversa tirei duas ilações principais: 1) ao contrário do que se diz e apesar da crise ser grave, não é o fim do mundo e 2) andamos a brincar aos países e às repúblicas.
Como bem referiram os antigos PR, haja ou não Orçamento de Estado, venha ou não o FMI a Portugal, caia ou não o Governo, toda esta situação há-de passar. Aliás, este é um pensamento muito português: depois da tempestade vem a bonança. Ainda que nas últimas décadas pouca tenha sido a bonança, como diz Sampaio, é preciso pensar positivo.
Porém, apesar desta ser uma das conclusões que tiro do debate, não concordo forçosamente com ela. É verdade, sim, que não é o Apocalipse. Mas a situação é grave e poderá ficar muito grave se o OE não for aprovado. E não podemos ignorar isso. Não podemos assobiar para o lado enquanto uns milhares fazem greves e manifestações. Não podemos fingir que é só mais um episódio de uma novela chamada “Crise”. Apesar de estarmos em crise há não sei quantos anos e de ser cada vez pior (Inês Pedrosa até sugeriu que se arranjassem outros nomes, porque os quantificadores começam a escassear), um dia vamos memos bater no fundo. E esse dia está perto. E digo isto não propriamente porque as condições de vida vão ser muito piores, mas sim porque se vão manter muito más por muito tempo, porque vai ser muito difícil reerguermo-nos.
Por outro lado, referiu Henrique Granadeiro que os políticos portugueses parecem crianças a brigar. Um que provoca o outro e o outro que faz birra e amua. Na situação em que nos encontramos, isto é intolerável. Toda a gente já sabe que Sócrates é um incompetente e que nunca devia ter sido Primeiro-Ministro. Mas se Passos Coelho quer fazer algo pelo país, então que ponha isso de lado por um momento e deixe o Orçamento passar. Porque um Orçamento de Estado é relativamente fácil de reverter, mas a desconfiança dos mercados internacionais é bem mais complexa.
Jorge Sampaio disse, esta noite, que a política precisa de gente nova, de caras novas, de ideias novas. Granadeiro explicou porquê. Eu estou totalmente de acordo. Temos políticos velhos, estruturas obsoletas e os poucos novos que aparecem são piores que os velhos.
A revolução não é a solução. Pelo menos a revolução de armas na mão. Mas é imperativo que haja uma revolução nos costumes, na postura dos cidadãos, no interesse pelo país, para que andemos para a frente. No fundo, os políticos são apenas o reflexo do país que temos. E a única forma de sairmos da crise é mexendo-nos, pressionando, lutando e apresentando ideias.
Lisboa, 11 de Outubro de 2010
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Chuva
O Inverno começou a bater à porta. A chuva começa a cair e o vento a soprar as copas das árvores. Os dias vão ficando mais curtos, mais escuros, mais tristes.
Em Portugal, estamos no Inverno há bastante mais tempo do que apenas uns dias. Alguns países passaram por uma tempestade e já começam a enfrentar a bonança. Por cá, continuamos com o tempo invernoso e ainda não vimos um ténue raio de sol por entre as nuvens.
Culpamos a conjuntura económica, que é culpa da conjuntura política e que influencia a conjuntura social. Mas, na verdade, a economia e a política não passam de desculpas e subterfúgios para algo que custa muito mais admitir.
Na verdade, o ser humano é e terá sempre que ser superior aos números. A nossa condição não se pode reger apenas por critérios económicos e/ou numéricos, ou corremos o risco de perder a nossa singularidade e superioridade. Aquilo que nos faz ser especiais é precisamente o que cada um tem de particular. E assumirmos a sociedade como um todo uno e homogéneo não é mais do que apagar a individualidade de cada um.
Culpar a economia por todos os males do mundo, é descartar as culpas que todos e cada um de nós tem. A economia não é mais que um sistema ao qual pertencemos, mas não é “o” sistema, nem tão pouco o mais importante. Como não o é nenhum sistema social. Os sistemas sociais são apenas isso mesmo: um aglomerado de indivíduos que partilham uma actividade e/ou objectivo.
Mas um sistema não pode condicionar todos os outros nem os indivíduos que dele fazem parte. Pelo menos, um sistema como o económico, que vai pouco mais além dos números e que não trata efectivamente de indivíduos.
Como defende uma teoria social, o sistema, o todo, deverá ser mais que a soma das partes. Por isso, o sistema económico não pode ser apenas um aglomerado de indivíduos. Antes, cada indivíduo, com a sua singularidade e unicidade deverá ter a capacidade de o influenciar. Contudo, colocando a responsabilidade de liderar o sistema nas mãos de um pequeno grupo, estamos a perder esse poder inerente à condição humana, que é o de, de facto, ser uma força motora da sociedade.
Assim sendo, na verdade, só depende de nós ter um futuro mais risonho à frente. Dirão, não desprovidos de razão, que não se vive de sonhos e o que dinheiro é fundamental. Certamente que sim, isso é inquestionável. Mas não é a sua falta que nos deve fazer esmorecer, parar de lutar e procurar soluções. Não somos uma massa amorfa incapaz de tomar decisões. Pelo contrário, somos um grande grupo de indivíduos cada vez mais instruído, com ideias, com capacidade empreendedora, como força para progredir.
No meio deste Inverno chuvoso que vamos atravessando, talvez não dependa exclusivamente de nós fazer com que a chuva pare. Mas, pelo menos, podemos abrir o guarda-chuva.
Lisboa, 6 de Outubro de 2010
quarta-feira, 14 de abril de 2010
O clima da alma
Eu pensava, como muitos portugueses, que o Verão tinha chegado mais cedo, este ano. Pelos vistos, enganei-me. Os dias de chuva voltaram e parece que nos farão companhia por mais uma semana, pelo menos. É esta a beleza do clima: tão depressa está sol como chuva, frio como calor; uma constante incógnita.
E, ao olhar para o clima, lembro-me, inevitavelmente, de tudo o que nos rodeia. Porque, na verdade, não somos todos e cada um de nós uma espécie de clima com pequenos micro-climas dentro de si? Nunca sabemos como será o dia de amanhã. Podemos ter uma previsão (tal como do estado do tempo), mas nunca pode ser totalmente segura e, muitas vezes, não se concretiza.
Nesse caso, para que serve a meteorologia? E qual é a nossa meteorologia, a meteorologia da alma?
Não me parece que haja forma de responder com exactidão. Sabemos que a meteorologia serve para prever o tempo, mas qual a sua utilidade se não é cem por cento certa? Tal como as nossas esperanças e os nossos desejos, as nossas convicções e as nossas certezas – tão fortes como o sol que se previa, mas que foi coberto por uma nuvem de última hora.
Quantas vezes não estamos certos de algo que, volta e meia, se revela uma mentira ou um erro? E quantas vezes estamos com dúvidas sobre que roupa vestir, quando a previsão parece clara? Que significa toda esta dúvida que nos assola quando devíamos estar esclarecidos?
Bem, se calhar não somos assim tão dependentes da meteorologia. Até aqueles que parecem ter uma psicose com o tempo que vai fazer no dia a seguir sabem, no fundo, que não passam de números quase vazios. Porque, de facto, sabemos que o clima, como nós, não é previsível. Porque o clima, como as nossas acções, tem lugar no futuro. E eu não acredito que o futuro alguma vez possa ser presente antes que seja hora de o ser.
Resignemo-nos, portanto, à inevitabilidade de viver na incerteza. E de conviver com as rasteiras que o tempo nos passa. Seja o tempo físico, seja o tempo psicológico, sejam horas, ou sejam meses. A inconstância do clima real é a analogia perfeita para o clima pessoal de cada um. Tal como o estado do tempo, também nós não nos podemos controlar e estamos dependentes de uma série de factores que, conjugados, nos traçam um caminho.
Até que ponto influenciamos o nosso futuro? Mantendo a analogia, tenho medo da resposta: tanto quanto me lembro, só pioramos o estado do clima do planeta.
Lisboa, 14 de Abril de 2010
segunda-feira, 15 de março de 2010
Ordem e Progresso
Uma perseguição da polícia na passada madrugada terminou com a morte do fugitivo e com o polícia autor do disparo constituído arguido. Ao que parece (a julgar pelas notícias que tenho lido), o jovem de 25 anos não respeitara a ordem para parar numa operação STOP e a PSP iniciou a perseguição. Tudo acabou em Benfica, com o fugitivo a ser baleado mortalmente.
Até aqui, nada de estranho. Aliás, só me parece que podiam ter acabado com a perseguição mais cedo (e da mesma forma), para poupar no combustível gasto. Porém, a lei portuguesa não tem o mesmo entendimento. Na verdade, o operacional da polícia, de 28 anos, foi constituído arguido, uma vez que, segundo a lei, ainda não está provado se havia perigo para a vida dos agentes da polícia ou de terceiros. Parece-me, a mim que sou um leigo na matéria, que só o facto de andar a fugir a alta velocidade nas ruas de Lisboa já é um perigo suficiente. Mas posso estar enganado!
E o mais chocante neste caso todo é que o agente da PSP ainda corre o risco de ser suspenso e acusado de homicídio. Para já, deverá ser afastado da actividade policial enquanto decorrem as investigações da Polícia Judiciária.
Bem, neste país, já nada me surpreende. Mas não consigo ficar indiferente ao ver que os criminosos têm mais direitos que os polícias, por exemplo. Não consigo perceber como é que é possível que o nosso Estado se tenha tornado tão liberal a ponto de um agente da autoridade incorrer numa acusação de homicídio enquanto cumpria o seu dever de manter a ordem pública.
A direita, e em especial Paulo Portas e o CDS têm alertado muito para este facto. Há uns anos, riam-se deles. Nas últimas eleições, os portugueses começaram a dar-lhes razão, o que se reflectiu nos resultados alcançados. Porque penso que é quase unânime (e não totalmente porque ainda há supostos intelectuais de esquerda que querem acabar com o exército e instaurar uma quase anarquia) que todos preservamos a nossa segurança e a prevalência do bem sobre o mal. Se se perguntar ao cidadão comum o que pensa do caso descrito (ou de tantos outros a que, de quando em vez, assistimos), é quase certo que a esmagadora maioria das respostas irá no mesmo sentido: o respeito pela ordem.
As sociedades actuais, cada vez mais globalizadas e complexas, são cada vez mais difíceis de governar e levar num rumo certo. Porém, temos que ter presente que só conseguiremos, algum dia, um mínimo de progresso se tivermos presente a necessidade de haver ordem.
Hoje em dia, tudo é um ataque à liberdade de expressão. Achamos (e uso a primeira pessoa apenas para representar os portugueses em geral, não que me inclua propriamente neste “nós”) que temos direito a tudo. Que porque vivemos 40 anos numa ditadura, agora tudo é liberdade. Mas não é assim. Até porque quem mais milita por esta liberdade (que mais não é que libertinagem), nem sequer viveu os horrores da ditadura.
Não podemos ter medo de condicionar a liberdade. Não é por pretendermos uma sociedade com mais ordem, com noção das hierarquias e do respeito pelas instituições e com uma mão forte no comando que vamos ser fascistas. É muito fácil e fica bem dizer-se que a direita (principalmente o CDS) é de extrema-direita ou, no limite, fascista. Mas se fizermos um exercício introspectivo, concluiremos que todos nós, quando atacados, o que queremos é que “se faça justiça” e quase esquecemos que o criminoso tem direitos.
As democracias ocidentais têm, cada vez mais, caminhado num sentido de cada vez maior permissão. Isto deve-se, em grande parte, devido à participação numa União Europeia e nalgumas outras organizações internacionais. Porém, nestas alturas, recordo-me sempre da “dama de ferro”, que tanta falta nos fazia. Se houvessem mais líderes como Margaret Tatcher, não tenho dúvida que o respeito pela ordem era maior e que o progresso (económico, social, cultural, pessoal) seria bem mais evidente.
Lisboa, 15 de Março de 2010
domingo, 14 de março de 2010
Às Direitas
O fim-de-semana político em Portugal ficou marcado pelo Congresso do PSD em Mafra. Já se sabia que não era um encontro decisivo e, no dizer de muitos analistas, era mais um comício tripartido que outra coisa. Nas minha perspectiva, foi muito mais que isso.
Em vez disso, foi uma demonstração de união dos sociais-democratas. Mesmo com divisões internas e com 3 candidaturas (que me perdoe Castanheira Barros, mas não me parece que entre para as contas finais), o Congresso serviu para muito mais que simples campanha.
Santana Lopes fez propostas, a meu ver, muito interessantes e pertinentes. A ideia de haver eleições directas no dia do Congresso e, principalmente, de haver um Congresso prévio é louvável. Não faz sentido fazer um Congresso depois das eleições. As discussões fazem-se antes, não depois.
Esta proposta, porém, bem como a proposta de haver uma segunda volta não foram aprovadas, para já. Mas todos os candidatos à liderança deixaram claro que poderiam voltar à discussão após as eleições. Há vontade de mudar, e isso é sempre um facto positivo.
Por outro lado, foi aprovada a proposta de haver sanções para quem criticasse a posição do partido nos 60 dias anteriores a um acto eleitoral. Pode-se pensar que é uma medida quase ditatorial, mas, se bem nos recordamos, foram todas as dissensões dos últimos anos que levaram o partido a esta situação. Ainda que discutível, pode ser positiva.
Inesquecível é, por seu lado, a intervenção de Fernando Costa, presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Muitos o acusam de ser politicamente incorrecto, de não se saber comportar em público e de ser inconveniente. Contudo, temos que reconhecer: Fernando Costa disse o que muitos pensam, mas quase nenhuns, com medo de “represálias”, dizem. Louve-se, por isso, a sua coragem e a forma como soube apontar a tudo e todos, sem deixar de reiterar o mais importante: a união dentro do partido e a força para derrubar o governo socialista. Se fossem todos assim…
Fora do congresso, mas também “às direitas”, uma nota de louvor também para Cavaco Silva. O Presidente da República remeteu para o Tribunal Constitucional o texto da lei dos casamentos homossexuais, com excepção do artigo que dizia respeito à adopção. Era uma atitude esperada, mas, nem por isso, menos acertada. Esperemos agora pela resposta da justiça. Pode ser que o casamento homossexual não seja um dado tão adquirido como se julgava e a proposta do PSD para a união civil registada seja vista com outros olhos.
Em conclusão, reitera-se o pedido de Pedro Passos Coelho ao engenheiro Sócrates. Já que demorou tanto tempo a apresentar o PEC, que adie a sua discussão por duas semanas, para que o novo líder do PSD tenha algo a dizer. Ficava-lhe bem.
Lisboa, 14 de Março de 2010
Retratos e Teatros
segunda-feira, 8 de março de 2010
O Triunfo das Mulheres?
sábado, 13 de fevereiro de 2010
We Are The World (again)
Caldas da Rainha, 13 de Fevereiro de 2010
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Deja vu?
Lisboa, 11 de Janeiro de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
"M" Syndrome
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Ilusão
Ele ali estava. No mesmo sítio de todos os dias. Com os mesmos olhos escuros e penetrantes que pareciam perscrutar tudo o que se passava à sua volta. Passava os dias no mesmo sítio, sentado, dir-se-ia que a dormir. Não falava, mas ouvia. À noite, quando era arrastado para a cama, servia de aconchego e era o passaporte para um mundo diferente.
Era um mundo perfeito. Perfeito e, mesmo assim, tão parecido com o mundo de todos os dias. O acordar era idêntico, mas mais solitário. A chuva caía da mesma maneira lá fora, fazia o mesmo barulho, provocava o mesmo sentimento de distância. Porém, agora só lá estava ele, no meio dos seus braços, para poder partilhar aquela manhã chuvosa.
Mas tudo o resto estava, às vezes, tão próximo. Foram muitos os momentos em que julgou acordar dum pesadelo. Contudo, quando começava a distinguir os contornos dos objectos no quarto, distinguia também os contornos dos seus pensamentos. Na verdade, em vez de um pesadelo, não passara mais de um sonho em que a realidade era um pesadelo.
No meio de todas estas controvérsias, tinha momentos, sempre ao acordar, em que confundia a realidade com o resto. Em certas alturas, chegava a revolver-se na cama, como que certificando-se que estava, de facto, só.
Não completamente só, é verdade. Ele lá estava, olhando e escutando tudo em redor. Seu velho companheiro de aventuras. Agora não passava de uma bengala em que se apoiava. Era o álbum de fotografias que o velho conquistador de mundos apreciava, todos os dias, com a nostalgia dos tempos de glória.
Tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão poderoso. Tinha a capacidade de o fazer recordar até o nascimento do mundo, sem que sequer lá tivesse estado presente. Era aquilo que se poderia designar como um projector. Como os que mostram filmes. Na verdade, ele mostrava filmes. Os filmes que se queria ver. Ele sim era uma verdadeira caixa mágica.
E no fim, não passavam de ilusões. Quando a chuva começava a soar nos seus ouvidos ainda meio adormecidos, já o filme estava nos créditos finais. Ou se não estava, nunca chegaria ao fim. A chuva marcava o fim da ilusão e o começo da realidade. Pelo menos, daquilo que se julgava mais real. Porque, afinal, o que é e o que não é real? Nos seus sonhos, tudo era real, até o pesadelo que, na realidade, era real.
Sempre que tomava a sua chávena de café matinal e pensava sobre o que era ou não real, o que tinha sido ou não ilusão, concluía o mesmo: não entendia e, por isso, desejava ardentemente voltar para junto do seu companheiro, que lhe mostraria o novo episódio, na esperança que percebesse o que era afinal.
Mas, invariavelmente, se resignava. Nestes momentos, apercebia-se sempre da sua pequenez. De como o mundo era grande e complexo e como ele, ali sentado a beber café, não percebia sequer se ele funcionava ou não, quanto mais como funcionava.
Era esta sua ignorância que lhe permitia desejar algo mais. Era ela que o fazia querer todas as noites o mesmo filme. Enquanto o visse, não seria uma ilusão, porque sentia o que ele lhe queria transmitir.
Lisboa, 15 de Janeiro de 2010